Passei a vida inteira lutando pra ser autossuficiente em todos os aspectos que poderia e conseguiria ser porque meus referenciais mais próximos me mostraram que precisar depender dos outros pra alguma coisa, pode foder nossas vidas num grau absurdo, e quando falo de dependência, falo de emocional, física, econômica, não importa. Depender é aprisionar-se também.
Partindo dessa perspectiva, durante boa parte da minha adolescência e vida adulta, conservei o menor grupo possível de pessoas como amigos, evitei ao máximo criar correntes que me ligassem a qualquer homem que fosse, porque via nesse desapego e independência, uma liberdade que eu considerava básica na minha vida.
Mas aí, inevitavelmente as pessoas chegam, te julgam, te chamam de arrogante, esquisita, metida, e você vai ignorando isso por um bom tempo (porque aprendeu a não se preocupar com a opinião dos outros), até que por um momento você tem um lapso de sensatez e resolve sair da sua bolha egocêntrica e se questionar se , só por um acaso, os outros podem estar certos sobre você.
Eu tenho um gênio do caralho; não sofri nenhuma grande decepção com amigos; também não sofri nenhuma grande decepção com algum par romântico (só relacionamentos tóxicos e cotidianos que considero até normais, dentro da realidade que vivemos), mas chegou um momento que eu resolvi questionar o porquê dessa minha obsessão com "não depender de ninguém". Percebi que meus referenciais sobre isso são meio tortos; percebi que meu pânico de me apaixonar e me entregar por um cara, existe porque eu vi minha mãe foder a própria vida por ser dependente emocionalmente de um relacionamento totalmente abusivo e cresci decidida a não ser igual.
Só depois que me dei conta de tudo isso que percebi que minha vida não é a vida da minha mãe, que faz parte do meu crescimento emocional aprender a confiar, ter amigos de quem eu posso muito bem não precisar, mas que podem tornar minha vida mais leve, e adotei uma postura de ser mais sociável, não porque eu preciso dos outros, mas porque é bom ser sociável. Continuo sendo aquela pessoa que pula fora toda vez que percebe que uma relação está me tirando mais que acrescentando, mas de modo geral, concordo que devamos sim ser seres mais sociáveis, porque temos que expandir nossos leques a todas as possibilidades. Autossuficiência e sociabilidade têm que ser opções e não falta delas.
Eu continuo sendo a pessoa que vai querer instalar a própria tv, pintar a própria casa, configurar o próprio roteador; afinal, aprendizado nunca é demais, né?