Como psicólogo, atendendo de adolescentes a pessoas na meia-idade, frequentemente encontro pessoas em busca da "certeza" de que são adultas, ou tentando imaginar o porquê de seus sonhos e desejos infantis e adolescentes já não trazerem o mesmo grau de prazer nem a certeza da satisfação. "Se isso é ser adulto eu não quero". Da mesma forma, não é incomum encontrar - no consultório, na rua, nas redes, na imprensa - gente vivendo como adolescente e se imaginando de fato um eterno "jovem". Criaram para isso uma suposta patologia, a Síndrome de Peter Pan, que vendeu centenas de milhares de livros entre o final dos anos 1980 e o início da década seguinte. Mas não há nada nem parecido com isso, no manejo da subjetividade e do entendimento de si próprio e da sua realidade.
Perdão pela auto-referência, mas explico sempre que nos tornamos adultos num dado momento: quando percebemos claramente que todas as nossas ações são consequentes. E essas consequências não atingem apenas a nós, mas afetam a muitas pessoas, bem além de nosso círculo mais próximo.
Ficamos adultos quando entendemos que as decisões que tomamos são de nossa inteira responsabilidade. E que não há como jogar a culpa no "sistema", na "educação", no "exemplo dos pais" ou na péssima formação de caráter produzida por lares desfeitos, famílias abusivas, colegas agressivos ou pais castradores.
A idade adulta é a idade da consciência. Em particular, da consciência de nossa responsabilidade pelos nossos atos, opiniões, cliques, curtidas, views, replys, omissões, aplausos e compartilhamentos.
Não é fácil compreender isso e, certamente, ainda muito mais difícil aceitar. Mas essa consciência, uma vez alcançada, nos permite alcançar um outro patamar de segurança, autoconfiança e até paz interior.