Olá Cambi

Estou aqui numa brecha de sonolência. A Nina está com 15 dias recem- completos, dos quais 4 apenas estamos em casa.

Dos outros 11, um foi no quarto conosco, outro na semi-UTI e 9 na UTI neonatal. Punk! A prematuridade de 4 semanas antes do prazo gerou uma falta de adaptação do intestino e hipoglicemia, o tamanho pequeno não facilitava a mamada.

Mas diferente do que relatou eu senti essa construção do amor mais rápida. De alguma maneira a escassez de contato criou um vínculo entre nós 3 muito poderoso. Ela reconhece minha voz. Eu consigo acalmar estados de espírito agitados, ajudo ela a respirar e curiosamente ela reage e entende. Quando é fome claro que a Juliana tem um papel ativo. Mas nos intervalos entre as mamadas a minha participação tem sido relevante (ou minha alucinação sobre isso). Levo ela para passear pela casa, falo sobre o que está acontecendo, ela para olha e reage. Ontem ela estava com muita raiva, batendo para tudo quanto é lado, nem a Ju acalmava com peito, um estado de desorganização. Algo me disse que tinha a ver com o estresse pós-hospitalar, eu disse algumas palavras para ela dando voz ao que eu supus que ela estava sentindo "Nina, todos ficamos arrasados com tudo o que aconteceu, de ver você sofrendo, você deve estar com muita raiva, teve o peito da mãe e depois o perdeu. Tudo foi muito pesado e todos nós saímos inteiros, estamos aqui de madrugada juntos, e daqui a pouco vamos lembrar disso como um sonho distante", eu e a Ju desabamos e nos olhamos com ternura e com essa fala, depois de 4 horas de choro ininterrupto (estapeando tudo pela frente) ela subitamente parou, respirou sentida e serenou. Depois olhou para a Juliana com tranquilidade e eu disse para ela "agora vamos te colocar abraçada no peito da sua mãe e você pode ficar tranquila que não vamos voltar para nenhuma incubadora". Ela sorriu (juro, não alucinei) e deitou serena por horas com a Ju. Hoje voltou a ser a criança doce e aconchegada. Nós privados de sono, felizes...