Julho de 2015, recém-chegada em São Paulo a trabalho, fui invadida pelo diagnóstico de um câncer de mama aos 29 anos de idade.
Respira fundo e segue, tudo se ajeita.
Passei pelo típico tratamento da doença até metade de 2016 (quimioterapia, cirurgia e radioterapia) e seus medonhos, porém nem tão devastadores, efeitos colaterais.
Afastada do trabalho, o grande tempo livre que tinha nessa rotina de tratamento foi ocupado por inúmeras experiências fantásticas que fizeram parte tanto do meu mundo externo quanto do interno. E foi nesse período que surgiu minha relação com o PapodeHomem.
A principal avalanche que tive que lidar nessa fase foi por causa de um namorado cuja dinâmica do nosso relacionamento se mostrava abusiva e eu era a maior prejudicada. Mesmo tendo a noção de estar nessa posição, me dispus incansavelmente a perdoar atitudes que tanto me machucavam e a apoiá-lo numa possível jornada para sua transformação pessoal.
Meus esforços eram em vão e eu não conseguia sentir nele o desejo de conhecer mais a si próprio e de investir em nossa relação. Comecei a questionar-me se realmente as pessoas se transformam tão profundamente mesmo. Parecia que eu tinha jogado no lixo meus cinco anos da graduação em psicologia acreditando no poder do ser humano.
Com uma rápida ajuda do Google, busquei algo que pudesse me confortar sobre essa dificuldade que temos em nos transformar. Acabei me deparando com um emocionante e verdadeiro texto escrito pelo Gustavo Gitti para o PapodeHomem: “Mudar é fácil...|Como a gente se transforma?”. Na hora pensei em seguir a página no Facebook, mas pensamentos estranhos me surgiram, do tipo: “Ah essa página deve ser só para homens”, “O que os outros vão pensar se souberem que sigo uma página masculina?!” etc. Resolvi dar uma espiada e encontrei outros textos tão lindos quanto o primeiro que me fizeram devorar matéria atrás de matéria, um dia após o outro. Hoje sou seguidora do PdH sem culpa, sem medo e ainda faço maior propaganda!
Bom, encaminhei o tal texto do Gustavo àquele meu namorado na esperança de que ele sentisse o mesmo encantamento por aquelas palavras que reviraram tão forte minha mente e minha alma. Mas quanta inocência... Só ouvi críticas dele em relação ao texto.
Mas não desisti, continuei minha saga de tentar incentivá-lo a reflexões sobre si mesmo, por meio de textos publicados pelo PdH. Porém, eu não estava obtendo sucesso nessa empreitada e, quando me dei conta, a transformação já estava ocorrendo, e era em mim mesma!
Meu câncer ainda estava comigo, meu namorado e nosso apartamento também ainda estavam ali, a falta de caráter dele piorava cada vez mais e minha vida continuava a mesma. O que estava mudando? Meu olhar para isso tudo começava a enxergar por outros ângulos.

As leituras do PapodeHomem foram e ainda são o gatilho para muitos dos meus questionamentos sobre a vida em sociedade, os quais costumo compartilhar com as pessoas que convivo. Nesta relação com o PdH, aprendi, às vezes nem tão na prática, outras vezes nem tão só na teoria, mas com profundidade, sobre machismo, relacionamentos abusivos, questões de gênero e cor, autonomia emocional, desapego, finanças, disciplina, masculinidade tóxica, pornografia, sexualidade, saúde, ética e outros inúmeros assuntos que rondam algumas das nossas conversas por aí e que, geralmente, não temos coragem de falar a respeito tão publicamente.

Agora reconheço algumas coisas nas quais acredito, sei me posicionar a respeito das causas que defendo, sei ouvir com a mente e o coração abertos tentando me livrar de preconceitos tão enraizados, sei inspirar outras pessoas na busca (individual e, ao mesmo tempo, coletiva) por sua transformação interna.
Tá certo, eu precisei passar pelo tratamento de um câncer para entender que ser paciente requer um exercício diário de muita paciência, e que não temos controle total nem sobre nosso próprio corpo. Isso me fez procurar ambientes para colocar em prática uma espiritualidade que até então eu desconhecia em mim, e que me trouxe paz e sossego para apenas sentir os problemas que permaneciam comigo, e não focar mais em tentar resolvê-los desesperadamente.
Todo esse cenário aliado às informações que eu obtinha pelo PdH (vale ressaltar que também acabei conhecendo nosso querido O Lugar em meio a esse percurso)me fizeram acordar para minha própria vida! As mudanças aconteceram sim como consequências das transformações que continuo passando. E, em 2016, o PdH esteve presente em cada pedacinho de todas as grandes mudanças que vivi: terminei o relacionamento, saí de casa, fui morar sozinha, fiz um blog para falar sobre o lado bom do câncer, comecei atividade física regularmente, iniciei uma alimentação bem mais consciente, impus meus limites aos outros e a mim mesma, camisinha sempre, feminismo me moveu por completo, frequentei a umbanda, me interessei mais por política e finanças, fui reconhecida em meu trabalho, o tratamento passou muito mais brando do que eu poderia supor, assumi um novo look de cabelos curtos e ruivos após ter ficado careca por muitos meses, fiz planos para o futuro, tive uma agenda pessoal de tarefas... tanto ainda permanece neste ano que se inicia... tanto ainda há por se fazer e para mudar... tanta motivação e disciplina para equilibrar dentro de mim. Apenas a única certeza de que esse caminho é o mais iluminado que eu poderia ter seguido com uma inspiração diária pelo PapodeHomem.
E, como se não bastasse, para fechar 2016, veio o presente mais especial que me dei ao participar do encontro sobre “Homens Possíveis” e ainda sentir reverberar as emoções daquele dia tão intenso e verdadeiro.

O PapodeHomem em 2017 segue comigo rumo a novas descobertas e transformações, especialmente no que se refere a um dos meus propósitos pessoais em multiplicar conhecimento e experiências de vida a qualquer pessoa que eu possa inspirar.
Minha imensa gratidão a todos os seres realmente humanos do PdH.