Esse debate sobre merecimento pessoal surge tanto no consultório de psicologia que essa questão de mérito sempre me ocorreu com reflexões as vezes imprecisas e que no final passavam pelo entendimento que você abordou, Alex, não há porque pensar mérito.

Me ocorrem três coisas:
1)Existe uma influência muito grande da moralidade judaico-cristã que de alguma maneira permeia o pensamento popular. A de que um deus estaria anotando na caderneta celestial as ações morais de uma pessoa e dando pequenas chicotadas ou docinhos num condicionamento sninneriano de reforço positivo/punição. Acho curioso quando alguém sobrevive à um acidente e alguém diz: graças a Deus você ficou bem. Sempre me pergunto: e graças a quem o outro morreu? Além disso me pego, a morte seria uma punição em si? Ou a tragédia? Sempre acho estranho (e engraçado pela puerilidade) de modo geral ver as pessoas especulando o pensamento divino.

2)Parece existir uma tendência obsessiva binarista na mente humana que fica criando um um balancete imaginário de validação de recompensa e bônus, como se fosse um arquivo emocional do tipo de sacrifício que fez acumulando tensões e privações para depois poder receber a hora extra em "dinheiro" e "dias livres". Num relacionamento amoroso vejo acontecer uma conta de débito e crédito dos favores concedidos/recebidos que simula esse balancete dessa doação/sacrifício. Meio maluco, mas as pessoas fazem isso quando deveriam aceitar como adultos que se fizeram algo fizeram por que quiseram e correram o risco da não contrapartida, que não é obrigatória.

3) Parece haver também algum tipo de intencionalidade oculta nos benefícios que recebemos e dos benefícios que proporcionamos, um senso de regulação moral que vai fantasiosamente proteger os bons (sabe lá o que isso signifique) e punir os maus. Essa lógica é tão sem sentido prático (apesar de ser bonitinha) e simplista, pois já vi muita gente passando por perrengue na vida e dizendo para si mesmo: bem, se estou sofrendo isso devo ser má. Quase como uma criança que sem saber por que apanha fica resignada, afinal seus pais sabem de tudo e ela deve ser uma criança má.

Bem isso ainda me deixa intrigado sobre o assunto.