Muito legal, Eduardo! Espero poder, daqui a dez anos, fazer algum tipo de relato como alguém que viveu diversas experiências, errou e aprendeu muito. Logo completo três anos de voluntariado em uma ong de proteção animal, e acabo de completar dois anos numa ong que ajuda refugiados. Meu envolvimento com a primeira é bem intenso, e com a segunda, mais singelo. Mesmo assim, em ambos os casos os aprendizados são enormes, principalmente no tocante à empatia, de que você bem falou no texto.

É fundamental ressaltar, como você também já o fez, que voluntariado está longe de ser um mar de rosas. O terceiro setor está aí justamente pra ajudar a sanar demandas da sociedade, mas o trabalho parece infinito. Você nunca vai chegar à sua organização de proteção animal e dizer "caramba, todos os animais daqui já foram adotados... já podemos fechar a organização!". Você sempre vai falar "opa, conseguimos 3 adoções, então já podemos receber mais 3 animais", enquanto se aborrece por não poder receber 30, 300 ou 3000 e sabe que muito possivelmente precisará chorar para conseguir finanças para tratar os recém-chegados - a ong em que atuo, por exemplo, acabou de receber seis gatos filhotes que precisarão passar por enucleação (remoção dos olhos). Além do desânimo em ver a situação em que esses animais chegam devido aos maus tratos, ao esquecimento, ao abandono etc, também é muito frustrante saber que você basicamente vive numa corrida contra o tempo para arrecadar dinheiro, pagar as contas (quase sempre atrasadas) e garantir o bem-estar dos recém-chegados.

Participar, singelamente ou intensamente, desses projetos, acaba nos dando uma outra visão de mundo. Você entende, pro exemplo, que sempre poderá haver discordâncias entre os indivíduos, mas que, nesses projetos, todo mundo tem o mesmo objetivo.

E a real é que você vai se deparar, sim, com voluntários que parecem integrar o projeto só para enriquecer o currículo, como já apontaram por aqui. Há pessoas que se comprometem para um trabalho recorrente, mas que, depois de uma ou outra vez, somem. Mas que garantidamente colocaram, em suas mídias sociais, que fizeram e continuam fazendo trabalho voluntário, como se estivessem fazendo um favor à sociedade e podendo, por isso, desrespeitar o compromisso por estarem "trabalhando de graça". A questão do ego nitidamente impacta, ainda que talvez só um pouquinho, o mundo do voluntariado.

Mas isso tudo nos faz entender um pouco de como funciona a sociedade, de como se prioriza o endeusamento da imagem, e não tanto o trabalho intenso para de fato mudarmos as coisas. Não à toa, é fácil encontrar pessoas que fazem aquele trabalho voluntário maroto do outro lado do mundo, gastando muito dinheiro, basicamente para poder publicar fotos, e não necessariamente para ajudar a sociedade (como se não tivéssemos tanta demanda aqui perto mesmo...). (Esse texto diz muito sobre o que pode ser o "volunturismo": http://pippabiddle.com/2014...

O que acontece no voluntariado é o mesmo que acontece em tantos outros "setores" de nossa vida, como educação, emprego etc. Eu mesmo me cobro constantemente para me certificar de que faço o que faço não por ego, mas por saber da importância de reconhecer os privilégios e ajudar quem não teve a mesma sorte que eu na vida.

Com certeza grande parte da vida útil da minha câmera fotográfica foi gasta fazendo fotos de animais aguardando adoção, mas nunca senti qualquer tristeza pelo "prejuízo financeiro". Saber que em breve posso ter que me despedir do equipamento, que me ajudou a garantir tantas fotos feitas sem qualquer tipo de cobrança, só me inspirou a investir ainda mais nisso, a criar projetos maiores, e que podem ajudar a multiplicar inspiração e conhecimento nesse tipo de trabalho, justamente para que mais fotógrafos se disponham a colaborar nessa área. Em essência, acho que o que todo voluntário quer é trazer mais pessoas para esse mundo, pois SEMPRE há demanda, né?

Muito legal, portanto, lermos textos novos sobre esse assunto, e ver gente comentando falando do interesse pelo voluntariado. Se cada texto conseguir inspirar algumas poucas pessoas a seguir nesse caminho, sensacional! :)