Caro Papo de Homem (homem-hetero, homem-homo, homem-bi, homem-trans, homem-jovem, homem-velho, homem-lúcido, homem-travado, homem-sensível, homem-machão) que escreve para pessoas, queria reforçar algo que parece estar negligenciado nos comentários.

Os brinquedos são uma das primeiras ferramentas de simbolização da vida e das relações pessoais, elas são uma extensão, que isoladamente não fazem o seu trabalho educativo, mas que incorporam sim muito do processo de "alfabetização" emocional do ser humano.

Brincar com carrinhos (e seus similares) traz um elemento impessoal de manifestação dos afetos, carrinhos podem bater um no outro, explodir, capotar e servem para simbolizar os sentimentos perturbadores que toda criança vivencia pelo próprio processo drástico de desenvolvimento ano a ano. São importantes, mas se expostos exclusivamente para as crianças, facilitam a veiculação apenas dos afetos destrutivos que existem na natureza humana. É da potencial natureza agressiva que pode ser expressa em brinquedos não-humanizáveis que falamos. Ela pode transformar um carrinho na pessoa (no mundo lúdico dela)? Claro, mas a conversão dessa simbolização é menos intuitiva para um bebe e uma criança na primeira infância.

As bonecas e bonecos são fundamentais também, eles personalizam a brincadeira, ajudam a criança a projetar o papai, a mamãe, a criança, o irmãozinho(zão), a professora, os amiguinhos. Ali ela projeta sua tristeza, saudade, medo, desconforto em crescer e também seu amor. O autor até exemplifica como a filha dele transpôs da boneca para a planta, o gato, o cachorro e as pessoas aquilo que parecia estar exercitando com a boneca.

No atendimento psicológica à crianças, nas caixas de brinquedo (ferramenta de diagnóstico e terapia) existem todos esses brinquedos, de "meninos" e "meninas". Eles ajudam a mergulhar no mundo da criança em toda extensão e profundidade. É lindo de ver.

Como o autor do texto bem exemplificou, fragmentar e pré-eleger quais são os brinquedos que os meninos se afeiçoam é uma maneira de restringir parte da simbolização e exercício (extra relação com cuidadores) da vida afetiva plena. Oferecer a diversidade de possibilidades é uma maneira de exercitar e ampliar o espectro de afetos da criança.

Isso não define, influencia e NUNCA determina o desejo sexual da criança. Se isso fosse verdade, nenhuma criança-menino seria homossexual, pois a exclusividade de brinquedos heteronormativos sempre foi oferecida aos garotos desde sempre. Seria como dizer que se uma criança brinca com um penino ela vivaria gay, "virar gay" não é bem uma expressão que faz sentido no que se refere a orientação sexual, não há escolha nisso. Portanto, brincar de boneca está radicalmente longe de qualquer indução de hetero-bi-homossexuliadade.

É preciso não ser ingênuo ou desinformado nesse assunto. Se algum homem heterossexual brincou de boneca em alguma fase da vida não foi esse elemento que influenciou o seu desejo.